Análise de um texto


Texto Eric Tavares

Oi. Queria nesse artigo aqui comentar sobre um texto que vi recentemente. Esse aqui: http://www.oconsolador.com.br/ano13/620/especial.html?fbclid=IwAR0QRIqgy0oXRdG_jFY6i2NSugYc2Vvb_RI9T6kIMu1FpfnTN4I0sSx5btw.

Pra começar quero citar um texto de Kardec que diz o seguinte:
"Numa palavra, discutiremos, mas não disputaremos." FONTE: Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Janeiro > Introdução

Portanto a intenção desse artigo não é causar brigas mas apenas de trocar ideias. Dito isso, vamos começar. No artigo o autor tenta rebater certas críticas feitas aos livros ditados por André Luiz e psicografados pelo Chico. Primeiramente devemos compreender que a obra de André Luiz deve ser analisada em partes. Pode haver coisas boas e ruins e devemos separar o joio do trigo. Contudo, devemos ter cuidado com o seguinte argumento: "esse espírito diz algo bom, logo ele é um espírito sério." Ora, Kardec vai esclarecer em diversos textos que espíritos inferiores e fascinadores podem se utilizar de palavras boas e coisas certas para melhor impor suas ideias e utopias. Pode se utilizar de termos considerados sagrados e até de nomes como o de Jesus. Vejamos:

"246. Há, Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas ideias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias. Como conhecem o prestígio dos grandes nomes, não escapuliram em se adornarem com um daqueles diante dos quais todos se inclinam, e não recuam sequer ante o sacrilégio de se dizerem Jesus, a Virgem Maria, ou um santo venerado. Procuram deslumbrar por meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras –– caridade e moral."
FONTE: Livro dos Médiuns item 246.

A primeira crítica que o autor tenta rebater é de que andré luiz é apenas um romance. Ele diz que o importante é o conteúdo e não a forma. É verdade. O próprio Kardec fala dos romances no artigo da Revista Espírita de Dezembro de 1865 chamado "Os romances espíritas." Contudo, deve-se compreender que um romance, tal qual os de andré luiz e emmanuel, não conseguem transmitir a realidade perfeitamente. Isso é o que muitos dos que admiram andré luiz não compreendem. Levam tudo como literal. Talvez não fosse essa a intenção do espírito, mas é assim como muitos entendem a sua obra.

A segunda crítica que o autor tenta responder é de que alguns consideram a obra de andré luiz inválida por ele ter sido considerado um "suicida inconsciente." Termo que nem faz sentido, pois se a pessoa se mata por beber demais, sabendo que isso faz mal (ainda mais por ter sido supostamente médico) então como pode ser algo inconsciente? Ora, é claro que um espírito, mesmo da terceira ordem, pode falar coisas boas. Devemos analisar o conteúdo da mensagem e não quem a dita. Contudo, como esclarece Kardec no Livro dos Espíritos, a partir da questão 100, no estudo que ele faz da escala espírita, os espíritos imperfeitos da terceira ordem ainda podem estar imbuídos das ideias terrenas. Ainda sofrem da influência da matéria. Portanto, devemos ter cautela. E considerar que, como Kardec diz no Livro do Médiuns, não há médium perfeito na terra, há apenas bons, que são os que tem sido menos enganados. Se o movimento espírita brasileiro considerasse isso, já seria um grande avanço. Vejamos:
" 9ª Qual o médium que se poderia qualificar de perfeito?

“Perfeito, ah! bem sabes que a perfeição não existe na Terra, sem o que não estaríeis nela. Dize, portanto, bom médium e já é muito, por isso que eles são raros. Médium perfeito seria aquele contra o qual os maus Espíritos jamais ousassem, uma tentativa de enganá-lo. O melhor é aquele que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido o menos enganado.”
FONTE: Livro dos Médiuns 226.


O terceiro ponto que ele tenta rebater é de que a obra de andré luiz trás informações novas, que não estão em Kardec. Ele diz que o fato da informação ser nova não quer dizer que seja contrária a Kardec. É evidente. Contudo, em qualquer ciência, para algo novo ser aceito, requer que seja utilizado um método. Ora, o autor desconsidera totalmente o controle universal do ensino dos espíritos. Como Kardec esclarece na introdução do Evangelho segundo o Espiritismo, para um  principio novo ser aceito, é preciso que ele seja ensinado espontaneamente em diferentes lugares, por diferentes espíritos através de diversos médiuns que não se conhecem entre si.

Na obra de André luiz há três partes. A primeira é apenas repetição do que Kardec já disse. A segunda são informações novas que ou são incoerentes ou não tem comprovação no método do controle universal. A terceira são informações verdadeiras, mas que são lugar comum, banais.
Kardec num dos artigos da Revista Espírita de maio de 1863 chamado “Exames das comunicações mediúnicas que nos enviam” diz o seguinte:
Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600, há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo, mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas cem de um mérito inconteste. Considerando-se que essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes, inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode-se julgar da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quisermos atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo.”

Kardec diz que de 3000 mil comunicações com conteúdo moral irreprochável, apenas 300 merecem ser publicadas. Isso prova que não basta apenas o Espírito falar coisas moralmente certas, que na verdade todo mundo já sabe. A obra não é necessariamente publicável por isso. Um livro como Nosso Lar por exemplo não seria publicado por Kardec. Até por conter ensinamentos contrários às obras fundamentais, como vamos demonstrar mais adiante. Antes de falar das contradições, quero comentar algo. A obra de André luiz trás elementos muitos estranhos, parecidos com ficção científica e que, sendo bem sincero, tenho dificuldade de entender como adultos acreditam nisso. Vejamos um exemplo:

"O Ministério do Esclarecimento, cujas impertinências suportou mais de trinta anos consecutivos, proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores e, pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias elétricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum." E ao seu ver pq esses trechos do Obreiro é absurdo?.” FONTE: NOSSO LAR 9 Problema de Alimentação.
Uma dúvida que tenho até hoje é a seguinte: qual a necessidade de espíritos usarem dardos magnéticos pra se proteger? A lei dos fluidos não funciona em nosso lar?
Agora vamos falar, para encerrar, das contradições. Não vou falar de todas elas, caso contrário o texto vai ficar enorme. Viraria um livro. Mas vamos lá:
Contradição 1:
Na obra Nosso Lar, do espírito André Luiz, se fala no capítulo 22 do bônus-hora, que seria uma recompensa que os espíritos receberiam em virtude de serviços prestados. Vejamos:
"Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de “Nosso Lar” recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora conseguem certas prerrogativas na comunidade social." NOSSO LAR, CAPÍTULO 22.
Contudo, será que essa visão se coaduna com a que está nas obras fundamentais de Allan Kardec? Vejamos:
Na questão 893 se pergunta qual mais meritória de todas as virtudes. No que os espíritos respondem:  "A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”
Vemos que o essencial da caridade é o desinteresse. Não há virtude sem desinteresse. Fazer o bem sem pensamento oculto, sem pensar em benefícios. 
Outra questão do Livro dos Espíritos que trata desse assunto: 
897. Merecerá reprovação aquele que faz o bem sem visar a qualquer recompensa na Terra, mas esperando que lhe seja levado em conta na outra vida e que lá venha a ser melhor a sua situação? E essa preocupação lhe prejudicará o progresso?
“O bem deve ser feito caritativamente, isto é, com desinteresse.”
Mais uma vez vemos a importância do desinteresse ao se realizar qualquer ato de caridade.
Contradição 2:
Muitos argumentam que nosso lar é uma criações fluídica. De acordo com o livro Nosso lar tem séculos de existência: Vide: “Nosso Lar” é antiga fundação de portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no século XVI". FONTE: Capítulo - 8 -Organização de Serviços página 33 – NOSSO LAR

Contudo, de acordo com as obras fundamentais, criações fluídicas são temporárias e fugitivas como o próprio pensamento:

"Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste." FONTE: A gênese os milagres e as predições segundo o Espiritismo > Os milagres > Capítulo XIV - Os fluidos 14

"129. Os objetos que o Espírito forma, têm existência temporária, subordinada à sua vontade, ou a uma necessidade que ele experimenta. Pode fazê-los e desfazê-los livremente. Em certos casos, esses objetos, aos olhos de pessoas vivas, podem apresentar todas as aparências da realidade, isto é, tornarem-se momentaneamente visíveis e até mesmo tangíveis. Há formação; porém, não criação, atento que do nada o Espírito nada pode tirar." - LIVRO DOS MÉDIUNS.

A ideia da existência de colônias espirituais não é compatível, portanto, com as obras fundamentais.
Contradição 3:
Em nosso lar há animais no mundo espiritual. Sendo que segundo Kardec o principio inteligente do animal é utilizado quase imediatamente:
600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se, depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?

“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente; não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”
Alguns tentam fugir disso dizendo que os animais descritor por André luiz na verdade são criações fluídicas e não princípios inteligentes, mesmo André luiz nunca tendo dito isso. Na obra de André luiz ele narra aves que comem forma pensamento negativas do umbral. Se os animais fossem realmente uma criação fluídica, seria uma forma pensamento comendo outra forma pensamento. Sejam sinceros: alguém acha que isso realmente faz algum sentido?
No meu blog eu listo mais contradições: https://blogespiritacomkardec.blogspot.com/
Para encerrar quero citar um trecho do livro de Herculano Pires, vampirismo:
“As exigências doutrinárias são muito mais rigorosas no tocante à aceitação de novidades. O Espiritismo estaria sujeito á mais completa deformação, se os espíritas se entregassem ao delírio dos caçadores de novidades. André Luiz manifesta-se como um neófito empolgado pela doutrina, empregando às vezes termos que destoam da terminologia doutrinária e conceitos que nem sempre se ajustam aos princípios espíritas.” FONTE: Herculano Pires, vampirismo.
Eu acho que Herculano até foi gentil demais ao falar do André luiz como um neófito empolgado. Enfim.
Espero que ninguém fique chateado comigo, caso alguém se interesse em ler até aqui. Temos que aprender a debater como adultos, sem melindre. Abraços

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