Percepções, sensações e sofrimento dos Espíritos:
Espíritos desencarnados não tem sofrimentos físicos, apenas sofrimentos morais (espirituais):
1 - Isso fica claro no Livro dos Espíritos. Vejamos:
"255. Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é seu sofrimento?
Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos".
"965. Têm alguma coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?
Não podem ser materiais, diz o bom-senso, pois que a alma não é matéria. Nada têm de carnal essas penas e gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações".
2 - Contudo, se os espíritos não tem sofrimentos morais, como alguns se queixam de sentir frio, calor, fome, sede, cansaço?
Kardec vai perguntar isso aos espíritos na questão 256, onde os espíritos vão responder:
"É reminiscência do que padeceram durante a vida, reminiscência não raro tão aflitiva quanto a realidade. Muitas vezes, no que eles assim dizem apenas há uma comparação mediante a qual, em falta de coisa melhor, procuram exprimir a situação em que se acham. Quando se lembram do corpo que revestiram, têm impressão semelhante à de uma pessoa que, havendo tirado o manto que a envolvia, julga, passado algum tempo, que ainda o traz sobre os ombros".
Ou seja, nesses casos é apenas uma reminiscência, uma lembrança dos sofrimentos que passaram durante a vida.
Kardec na revista espírita vai dar o exemplo de um Espírito que em uma comunicação disse estar sentindo frio e que queria se esquentar numa lareira. Trata-se claro de um espírito ainda muito materializado, ligado ainda às coisas materiais. Vejamos:
"Numa pequena reunião de amigos, ocupávamo-nos de evocações quando, inopinadamente e sem que o tivéssemos chamado, apresentou-se um Espírito que havíamos conhecido muito bem, e que em vida poderia ter servido de modelo ao retrato do avarento feito por São Luís: um desses homens que vivem miseravelmente no meio da fortuna; que se privam, não pelos outros, mas para acumular sem proveito para ninguém. Foi no inverno e nós estávamos perto do fogo. De repente aquele Espírito trouxe à nossa lembrança o seu nome, no qual estávamos longe de pensar e nos pediu permissão para vir durante três dias aquecer-se à nossa lareira, dizendo
que sentia horrivelmente o frio que voluntariamente suportara durante a vida e que, por avareza, obrigara os outros a suportar. Isto seria um alívio, acrescentou ele, se quiserdes conceder-mo".
Kardec nesse mesmo artigo da revista espírita vai questionar o Espírito São Luís sobre isso:
"Parece disso decorrer que esse Espírito de avarento não sentia um frio real, mas que ele tinha a lembrança da sensação do frio que havia suportado, e
essa lembrança, que lhe era como uma realidade, tornava-se um suplício.
─ É mais ou menos isto. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral. Não se deve confundir o efeito com a causa". FONTE: Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos - 1858 > Dezembro > Sensações dos Espíritos
https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/20/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1858/4477/dezembro/sensacoes-dos-espiritos
3 - Mas, se os Espíritos não tem sofrimentos físicos, como explicar os casos dos Espíritos que, ainda estando ligados ao corpo seus perispíritos, sentem
os efeitos da composição e os vermes roendo seus corpos?
Kardec vai explicar em o O Livro dos Espíritos > Parte segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo VI - Da vida espírita > Ensaio teórico da sensação dos Espíritos
https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/138/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-vi-da-vida-espirita/ensaio-teorico-da-sensacao-dos-espiritos
Lá se diz: "Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, porque se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa vez, um suicida:
“Não, não estou morto.” E acrescentava: No entanto, sinto os vermes a me roerem. Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados".
Como se explica acima, nesse caso não era uma reminiscência, nem um sofrimento material. O Espírito sofria pela visão do corpo que tinha em estado de decomposição. Para o espiritismo, o mundo espírita é todo moral, isto é, espiritual. O trabalho, os sofrimentos e os gozos não são materiais. Alguns espíritos é que, ainda muito materializados, podem se encontrar num estado de ilusão, pensando que precisam viver como na Terra. A palavra moral nesse contexto quer dizer tudo que é relativo ao espírito, em detrimento do que é relativo à matéria.
Texto de Eric Tavares
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